– Gosto dele como sei lá o quê. Acho que morria se ele me deixasse agora...
É Gabi. Os olhos encharcadinhos de emoção e deslumbre, são quase dois anos de namoro para celebrar com o Marco do ginásio, nem sabe ela como chegaram até aqui sem percalços ou desavenças (mas sei eu). Comove-se também a cabeleireira, uma revoada de penas e lembranças murcha-lhe a expressão, ressoa nela todo o medo que atormenta a jovem. Bate na madeira, filha, bate na madeira e dá cá um abracinho, cúmplices na fraqueza, como nunca as vi no trabalho.
Assentam as versões mais perigosas do romantismo nesta ideia de que o outro nos salvará. Em tempos que já lá vão, salvar-nos-ia de dragões, malfeitores, ruína financeira, má fama e até guerras. Hoje, salva-nos de levarmos sozinhos às costas o absurdo de existir. Ser romântico é uma enorme irresponsabilidade, quando não uma vergonhosa preguiça.