Ao cabo de algumas semanas de excessos, volto à clausura do mosteiro para rever certas lições que, por teimosia ou genética, jamais aprendo. Retiro-me sem fotogenia, sem momentos instagramáveis, sem cenários de padrões étnicos, filtros de sonhos ou árvores da vida. Aqui o abrigo é pedra, os dias são de nudez e austeridade, silenciosos e por vezes até obscuros. Mas é certo que posso pasmar sobre uma parede mofada com a mesma satisfação com que outros o fazem sobre o dourado líquido de um poente e enquanto esses são animados pela ideia de que todas as coisas são possíveis no infinito universo, eu aceito que todas as coisas são inevitáveis na finitude que sou. Não busco clichés sobre a felicidade, o amor-próprio e outras boas intenções de que o inferno das bocas alheias já está cheio. Ambiciono coisas maiores: decifrar enigmas, investigar a verdade, levantar as proibições que os deuses fazem aos humanos. Mas mal me sento a meditar diante da face iluminada de Buda e dos seus olhos repousados, sem sermão, doutrina, castigo ou fantasia, fico refém da lembrança dos meus apetites mundanos: waffles com chocolate quente, dois tragos de hidromel, as mãos competentes do homem cínico, escrever com propriedade sobre coisas que, em bom rigor, ignoro.