Da realidade, esperamos desfechos apoteóticos e surpreendentes como os que os guionistas de americanices tramam, mas a vida acaba por ser quase sempre só uma história de decadência pontuada com êxtases e passatempos, mais ou menos abençoada, mais ou menos dolorosa. Não há um clímax a precipitar revelações e a resolver de uma vez o conflito. Na maioria das vezes, o epílogo é só uma singela despedida, um acidente ou façanha que jamais são capa do jornal, um segredo que mal acicata a curiosidade de bairro, um monte de tralha que fica para arrumar, um rascunho, um amor muito aquém da eternidade, um dia de morrinha como o de hoje. Somos heróis de trazer por casa, o nosso infortúnio pessoal é invisível e resignado, os nossos êxitos são fogachos insuficientes para desenredar dúvidas, medos ou más memórias, e só raramente iluminam o caminho adiante.
Na qualidade de mensageira – a única a que me arrisco –, lamento a vulgaridade do que aqui se conta. Lamento que a imperatriz vá embora com Joaquim e que não haja rumor de nenhum duelo, nenhuma verdade oculta a vir à tona, nenhum homem de joelhos, nenhum escândalo, descontrolo ou ameaça na hora em que ela aperta os cintos da cadeirinha do menino, fecha a porta do carro, diz adeus e arranca para Penedono.