5.3.21

Tarde e a más horas reconheço a importância de uma mentira bem contada. Mentir é feio, costumam dizer os adultos na sua sobranceria de caráter, pretendendo enfiar no mesmo saco, com notório e atabalhoado esforço, a maturidade e a verdade. Mas feio é que não é. Mentir requer uma arte fina e construtiva a que não pode negar-se o mérito de poupar vidas. Num balanço que fiz por razões minhas, contabilizei as verdades que nenhum bem ou vantagem me trouxeram, antes me subtraíram forças e esperança. Que moral, princípio ou orgulho têm património bastante para justificar e cobrir o prejuízo? 
Claro que é difícil encontrar quem minta como deve ser, que nos proteja de desgostos com grandeza e imaginação e não se descosa ao insistir em frases feitas – sou incapaz de mentir! digo sempre o que tem de ser dito! – e noutros espalhafatos. Como em qualquer outro ato de generosidade, a mentira de boa intenção resulta melhor quando parece distraído e despojado o seu autor. De resto, para que nunca se torne um pecado, basta nunca ser confessada.