"Novo normal" é uma das mais patéticas expressões que a contemporaneidade inventou, uma espécie de quinquilharia sociológica que nos últimos meses se usa, como se fosse uma joia, no comentário, na conclusão e na aceitação. "Normal" já era vocábulo com pouca coisa lá dentro, de uso tão amplo, diverso e vago que serviu e serve de igual modo todas as correntes, culturas, ciências e religiões, e ampara sentimentos que podem ir da repulsa – credo, isso não é normal – até à desvalorização – deixa lá, isso é normal. A ambiguidade do "normal" vê-se na facilidade com que sempre foi trabalhado como plasticina, gerando enganos, negligências, marginais, doentes, frustrações, desconfianças. Precedê-lo do adjetivo não lhe dá uma feição diferente, mais firme ou concreta, nem torna intrínseca a moral que jamais lhe pertenceu mas de que sempre se dourou. Mas ao evitar que notemos o seu oposto - o anormal -, o "novo" amacia os nossos espíritos e convida-nos a instalarmo-nos sem reservas.