Por baixo do vestido de festa, a carne podre. E eu trabalho de costureira, das nove às seis, exercitando o pesponto miúdo, cobrindo tudo de sedas e rendas finas, cerzindo com fio dourado as malhas caídas e pregando o acabamento em lantejoulas. Depois, sacudo dos ombros a minha consciência suja, deixo-a ficar na cadeira de escritório e volto para casa com o sono, a disposição e o apetite intactos.
Quando em jovem eu bradava que jamais me venderia, mal sabia quantas formas há de nos comprarem. Também em mim, concluo, assentam bem certos vestidos.