Isabela deu o que tinha a dar. No fim de agosto, já todas as suas pétalas eram caídas e a haste estava seca. Penso, comovida, naquelas treze flores perfeitas, macias, e entendo o assomo de vaidade que acabou por corromper a inocência da minha orquídea. O primeiro a cair na armadilha da beleza é o seu autor. Agora, porém, Isabela está apenas a submeter-se aos ciclos da vida, que ainda que tardem não falham, e resta-me depositar a fé no ninho de folhas sobrevivas junto à raiz, ainda muito verdes e carnudas. Dizem que enquanto as há, há esperança e talvez na volta da primavera se dê um milagre.
Noutro dia, a cabeleireira disse-me que tenciona decorar toda a montra do salão com orquídeas. Acho-as imensamente femininas, e ao advérbio deu um tom afetado que me surpreendeu, talvez o imite a alguma cliente ou a uma figura da televisão. Pois o mal é esse, comentei. Tão depressa vemos nelas a graça que temos – em formas, feitios e feitiços – como num instante nos revelam a ruína que nos espera. Aconselhei-a a esquecer as orquídeas, que assustam espíritos fracos como o meu, e sugeri-lhe samambaias. Parecem-se muito com cabeleiras e são por natureza tão descontraídas e desarrumadas que passa, sem se notar, qualquer imperfeição ou assimetria. Não dão flor mas também não causam penas.