Antigamente, precisando eu de um catalisador do choro para desintoxicar de emoções inutilmente acumuladas, punha a correr o concerto de Keith Jarrett em Colónia. Certinho como poucas coisas na vida: aos sete minutos e treze segundos, nem mais nem menos, a torneira abria. Ah, daí para a frente chorava-se muito bem – lágrimas decididas, triunfantes, fatalistas, orgulhosas da sua causa e da sua vantagem – , mais ou menos até aos oito minutos e quarenta segundos. Depois, pelo resto do concerto ficava o espírito numa planura luminosa, desembaçada, pronta para a florescência. Hoje, sou muito menos refinada. Qualquer cebola fresca cortada pelo meio serve para o efeito e ninguém nota.