16.6.20

Conta-me uma história sem ambição de explicar o mundo, que isso é tarefa para as pessoas vulgares. Conta-me uma que lhe puxe o tapete e o deixe sem pé. Sabes bem o gozo que tiro de ficar a ver se ele se aguenta, como sustém os seus falsos alicerces e com que fôlego respira. Aflita, acabarei, claro, por lhe deitar a mão e acomodá-lo-ei onde a minha lógica tiver uma vaga ou as verdades que conheço possam afastar-se um pouco para lhe dar chão. É para isso que me servem as histórias que ouço e leio, para me dar conta dos espaços que ainda tenho em branco, reconfigurar a minha consciência das coisas, arrancar as estacas, desincrustar as pedras e os mofos, baralhar e repartir, mas jamais dar como terminada ou suficiente a visão humana, débil, rasteira, que tenho do mundo.