Tal como previ, culminou em desastre o arranjo que ontem tentei dar às minhas unhas. Tenho mãos miúdas, com dedos tão finos que mal seguram anéis, mas nem por isso talhadas para requisitos de minúcia e paciência. Em pequena, davam-me náuseas e dor de barriga as aulas de trabalhos manuais, disciplina que maculava o brio da minha pauta. Os meus colegas faziam delicadas peças de madeira, belíssimas tapeçarias de arraiolos e fada-do-lar, esculturas cerâmicas que as mamãs ostentavam no hall das suas casas e a mim, nunca mais me esqueço, um dia a professora cheia de pena, a ver se ainda era possível salvar-me: ó querida, só se tentares fazer um alguidarzinho de barro. Que miséria.
Se a minha mãe ainda por cá estivesse e visse hoje o espetáculo destas unhas, a lembrar os primeiros ensaios com guache em pré-escola, havia de me dar consolo: pronto, não se pode ter jeito para tudo. Eu, mais apaziguada no seu colo, e para justificar as carradas de papel que sempre me disponibilizou e gastei sem moderação, responderia, como se isso de alguma coisa me redimisse: ao menos escrevo, não é? E ela, com a complacência do amor materno, que por natureza distorce e é habituado a fantasiar generosamente, sim, coisas muito lindas, coisas muito lindas.