23.4.20

Está tudo tão quieto que até à bravura deu sono. Não vibra mais por aí a energia do grande exército de salvação do mundo que nos pediram para ser. Afrouxou a bandeira do altruísmo e do sacrifício, desesperam agora os que mais firmes pareciam no isolamento. Era tudo magnânimo, intenso, apaixonante, enquanto se aplaudiam deuses e se culpavam bestas. O inimigo não era só um vírus, era um partido, um vizinho que não amparou a tosse com o braço, um velho que saiu para uma volta ao quarteirão por não ter jardim, varanda ou companhia e que ninguém soube compreender.
Agora que a areia vai assentando no fundo das águas, começará a transparecer o saldo real de tudo isto. E à tona vem a espuma de sempre.