18.4.20

Cansei-me das linhas de montagem de novidades sobre o coronavírus, dos diários da quarentena, da futurologia de trazer por casa e dos lugares-comuns em torno do regresso às coisas simples. Reduzi drasticamente a já escassa lista de blogs que lia e atravesso na diagonal os títulos das notícias. A vida através das janelas tecnológicas ou outras com que se remedeie o isolamento está enfadonha. A bondadezinha tornou-se um ensaio demasiado fácil e com figurino já encardido. A melancolia cheira a bolor. Os sermões moralistas, as análises e psicanálises de autoria diversa e ilegítima fazem rir nuns dias, noutros fazem bufar. As teses científicas tornaram-se produtos de mascar e deitar fora, com validade suspeita e de curto prazo. E a imprensa vai aproveitando para nos injetar veneno em doses reforçadas porque sabe que o medo abre todas as costuras da razão e permeabiliza os espíritos. 
Sou grata aos que, no meio disto tudo, conseguem ter a mente desperta e fora do carreiro. É com esses que aproveito para respirar fundo e fresco porque, como é fácil notar, também eu pouco digo que valha.