28.10.25

Hoje acordei contigo dentro de mim, escreve o homem da ilha, empenhado em atravessar o mar que nos aparta. O meu coração, que passa sempre ao largo das trapaças do romantismo, faz o cálculo às milhas, multiplica pelos dias, dobra a distância e encolhe os ombros. Bonitas palavras, sim senhor, mas a beleza do verbo apenas serve jogos, poemas e promessas, favorece a graça, a arte e a sedução. Com ela não se constroem pontes, nem se acalmam marés, nem se orientam lemes. Para esses fins, são necessárias palavras de sobriedade metálica e firmeza de rocha, precisas e robustas, que suportem o peso da dúvida, palavras de que o vento se desvie por respeito e reverência. Habituado à contrariedade, o homem da ilha sequer estremece com o meu desdém. Está disposto a investir todas as suas economias sentimentais, o tanto que tem poupado por falta de fé. Diz-me que o tempo insular é de horas amplas e que não tem necessidade de as abreviar. Que, sem pressas, acabará por me converter e, quando eu der por mim, terei embarcado, voluntariamente. Era o que faltava, digo. Era.