Agosto já começou a abreviar os dias. Esgota-se o tempo da sensualidade e do esquecimento, da fartura e da desvergonha. Extingue-se o fogo e o furor — o quanto deixámos por arder, arderemos no ano que vem. Ao longe, a gritaria dos adolescentes que em bando desarrumam o quotidiano, baralham as horas e metem medo aos velhos, opõe-se até onde pode à responsabilidade. Mas por que raio o mundo há de ser tão urgente? As mães afoitam-se nos grupos de mães; a mais concorrida e infeliz de todas competições já chama por elas e todos os inocentes serão arrastados. Só os homens são iguais o ano inteiro.
Do resto do país não sei, mas o Porto, que sempre com tanta prontidão modula os seus humores, já acinzentou. Cheira a melancolia, cheira a casa, cheira a terra e a saudade. Setembro acena, como o pai a chamar o filho à razão no término da hora do recreio e a estender-lhe o casaquinho para que não seja apanhado assim, tão exposto e distraído, na curva apertada da realidade.