17.5.22

Não esvazies a dignidade dos teus semelhantes tratando-os de forma paternalista ou piedosa, ofendendo a sua dor com lugares-comuns, afagando-lhes a cabeça como à dos cães mansos, porque te igualas a um desses arrogantes que deixam esmola ao pobre não para que ele coma mas para que notem o seu ato. Cuidado, porque a benfeitoria apressada acaba a tropeçar na tentação da fanfarronice. A dor alheia não é um fosso que possas tapar com palmas de flores e onde laves a tua consciência do pecado da distração quotidiana. É um monumento para visitar em respeito, levantado com sacrifícios que desconheces, porque não eram tuas as mãos nem te atolaste nas funduras de onde sobressaíram os seus alicerces.