8.3.21

Quase três da madrugada e desperta-me o ranger da cama do vizinho. Mas não, o que escuto não é a cadência de um galope amoroso. São as voltas do tédio e do desespero. Ele ou ela, um dos dois se atormenta pela demora do amanhecer, luta para se desfazer do peso do corpo e desligar a consciência, que a estas horas insiste sempre em operar a favor dos fantasmas. Acordada, logo me torno também presa fácil de duas ou três inquietações e quando dou conta já as oportunistas se enrolaram comigo nos lençóis. À falta de outra, talvez esta possa ser uma forma de solidariedade entre vizinhos.