Daqui do canto ouço o mais novo, numa aula qualquer:
– Ó stor, se não viu esse filme veja, porque é bué de interessante.
Lembro-me tão bem da minha própria preguiça lexical. Na idade dele, quantas vezes despachei tudo com coiso e cenas porque a pressa de contar era grande e dar à forma a primazia sobre a ideia é uma perda de tempo a que, por natureza, a adolescência não pode dispor-se. O meu pai, um purista da língua, que se fechava horas a fio a rever, espremer e polir parágrafos, não se gastou nem me agastou com sermões. Aproveitava as minhas tontices para gracejar ou fazer trocadilhos. E foi nisto que dei: incapaz de uma frase com sentido, de articular uma ideia, de pensar pela própria cabeça.