Eu, pra mim – diz a rapariga da papelaria, exalando uma energia tão adolescente que me pergunto se andará mouro na costa – o que me interessa é a generosidade, não há nada mais sexy num homem do que vê-lo tirar a camisa do corpo para dar a outro. Não acha? atira-me a sangue frio. Ora, isso depende do que há por baixo da camisa, digo sem ter a certeza de que ela me entende. Por vezes também caio na asneira, injustificada, de a julgar tola só porque tem um coração destrambelhado, que se despistou na primeira curva e não há meio de tornar ao caminho. Eu, pra mim, o mais atraente é a coragem moral, acrescento. Homem que a tenha como virtude revela sempre um peito largo, umas costas verticais e até uma ou outra cicatriz de combate. Ela suspende o movimento das revistas no balcão: e conhece muitos assim? Por culpa da máscara, que me priva da sintaxe completa do seu rosto, não consigo perceber se é de dúvida ou ironia o olhar lateral que me deita. E, a jogar pelo seguro, desconverso com o pretexto da falta de trocos.