À mesa, debaixo de um céu de estrelas, numa varanda para o mar ou em qualquer outro poiso de prazer e contemplação, eu e o mais velho ficamos amiúde à conversa sobre as fontes de mistério que há no universo ou sobre as bizarrias da condição humana. De mim, o rapaz voador herdou todas as imperfeições e do pai todas as virtudes, por isso o amor que lhe tenho é compassivo e fascinado ao mesmo tempo. Quando conversamos, procuro evitar que a minha sensatez contamine a doçura dos seus sonhos ou arrefeça o furor das suas convicções ou ponha um freio criminoso ao galope das suas ideias. A juventude é magnífica e nisto que digo não há ironia ou sequer paternalismo, só inveja, dessa que os deuses castigam e a que os humanos viram a cara na rua por receio de se descobrirem dela aparentados. Nada se ganha com a maturidade, a não ser a eficiência com que voluntariamente encaixamos na engrenagem e comparecemos no quotidiano de escravos. O resto são eufemismos.