22.6.20

O retomar dos velhos ritmos da vida e da cidade tem-me mantido desinteressada de escrever. Ignorando se e quando voltarei a ser privada do mundo lá de fora, do seu bulício, dos benefícios da civilização e do convívio com os que me são queridos, sinto-me agora como a adolescente acabada de se emancipar, sôfrega e inquieta, engendrando formas seguras de fazer, estar e acontecer, mas também desejando coisas mundanas, prazeres ligeiros e superficiais. Não me espanto de ver que todos estamos iguais, porque outra coisa não imaginei durante os quase três meses de reclusão. No jogo da futurologia nunca entro com uma dose de esperança superior à de que preciso para estar em pé. Pergunto-me, aliás, de onde terá vindo a ideia romântica de que deste susto global se havia de erguer uma humanidade renovada, finalmente distinguindo o acessório do essencial, mais dedicada à natureza e ao próximo, com mais apreço pelo tempo do que pelo dinheiro. Acredito que seremos todos cada vez mais polidos, porque mais censurados, vigiados, criticados, regulados, mas nunca seremos melhores do que ontem fomos.