26.6.20

Gabi e a cabeleireira queimam o tempo livre com cigarros, posando como um par de jarras à entrada do salão vazio. Ao verem que passo sem propósito de entrar, embarcam nessa prática comum em certas mulheres – da qual nem se apercebem por ser já tique –, que é a de olhar as outras de cima a baixo, tirando todas as medidas e conclusões que as turbulências de uma imaginação mal aproveitada lhes ditam. Sorrio, consciente de que logo tomam como certeza o que quer que ocorra como suspeita. Mas diz-me a experiência que, no fundo, é sempre maior a tortura de quem engendra a história do que quem dela é personagem. E se há dias em que as personagens são elas, dias tem de haver em que quem descansa sou eu enquanto elaboram os outros a meu respeito.