6.3.20

Agora que os fins de tarde se amenizam e prolongam, às vezes as meninas do colégio descem a rua ao encontro dos rapazes da escola pública. Gosto de as ver à espera deles do lado de fora do portão, com os cabelos alisadinhos e uma nesga de perna à vista, doce e branca, entre as meias altas e a bainha do kilt. Os rapazes da escola pública comportam-se como astutos traficantes de emoções, têm motas, mata-velhos e cigarros, cabelos sem governo, horários flexíveis, dezoitos e vintes só com desmedido suor, pais que nem sempre sabem onde eles andam. Provocam-nas com piadas subversivas, mas logo usam um gesto terno ou chegam o nariz ao pescoço delas para endireitar a situação. E o riso que riem juntos é o riso da desordem e do excesso, um riso sem propósito nem freio, por isso os adultos que passam desconfiam e temem que daquela leviandade venha o fim do mundo. 
A adolescência não é o mais seguro nem o mais razoável tempo das nossas vidas, mas é provavelmente o mais honesto.