17.1.23

Sinceramente comovida com o laço amoroso que entre Alicita e Álvaro se aperta, a rapariga da papelaria passou a autorizar a menina a ir mais vezes ao pai do que aquilo que era hábito e decreto. Afinal, diz ela, o fim de semana a cada quinze dias é procedimento antiquado, próprio de separações ressabiadas, o que agora se usa é partilhar a custódia. 
Mas, ó filha, não dês muita folga à corda, dizem-lhe as velhas, que mãe há só uma e se não te pões a pau a menina desafeiçoa-te de ti. Pudessem elas entender – ou lembrar – de onde vem a moleza de coração da rapariga da papelaria! Acaso não percebem nela mais leveza, um sorriso mais fácil, o humor mais ligeiro pela manhã, as costas mais direitas, o peito mais dilatado, até a pele mais resplandecente, a confiança escancarada em cada movimento do seu corpo? Serei a única a notar-lhe os tiques dessa felicidade por natureza distraída e preguiçosa que dá nos enamorados e que faz de toda a realidade um facto secundário e adiável?