Dá-se o caso, já várias vezes aqui sugerido, de o meu vizinho ser um homem atraente e daí vir parte da minha implicância. Aborrece-me que a imaginação alheia, tomando a boa figura como bitola, esteja a léguas da realidade frouxa e incompetente que ele é como pai, marido e amante. Vestiria melhor nele um aspeto vago, um passinho nervoso e miúdo. É das páginas aprendidas ainda na infância que a feição e a essência em muito – senão em quase tudo – discordam, mas não é por as coisas serem por demais sabidas que deixam de ser ardilosas. Antes de nos enamorarmos de alguém, devíamos poder encostar o ouvido à parede da sua casa.