20.7.21

Se não há um gato em cada casa deste país, deve ser verdade que há pelo menos um gato numa janela defronte de cada casa deste país. A mim coube-me a graça quotidiana de um branco e cinzento, que vive num parapeito do outro lado da rua. Não há quem, antes dele, saúde a alvorada ou seja tão disposto à adulação do astro-rei. Claro que tudo é feito de forma discreta e indolente porque a descendência felina, ainda que abastardada pelo cruzamento com os hábitos humanos, não bajula por dá cá aquela palha nem com modos que diminuam. O gato prefere a calada e os rodeios que, no comércio bem aprendido de carícias, lhe garantem sempre a margem superior de lucro. Porta-se como um amante ocasional, cujo segundo maior talento é ir embora antes de entediar e por isso faz sempre desejado o seu retorno.