2.7.21

Com a sua coleção de rancores familiares, Ana Isabel, a mais nova das manas Pereira, tem vindo a perder brilho. É-lhe inútil o investimento no voluntariado. Acarinhar a desgraça alheia não a salva da indigesta combinação do hábito de maldizer com a incapacidade de profundamente perdoar. Coitada, pratica a solidariedade como quem faz férias: quanto mais longe de casa melhorÀ cara da mãe atira a inconsistência de princípios e esfrega sempre a mesma fatura, como se os filhos fossem os únicos e justos credores nas contas mal feitas do casamento dos pais. Supõe-se uma rebelde por se levantar da mesa, virar as costas e desaparecer durante meses, mas é, em boa verdade, herdeira de uma fraqueza muito antiga: chora-se uma vítima da geração anterior e exige da geração seguinte o que não deu. E se estou certa disto é porque de passagem ouço o sussurro com que impõe a autoridade à sua menina exemplar: sou tua mãe, sou mais velha e experiente, nem te admito que ponhas em causa o que digo, 'tás a perceber?