1.5.21

É sabido que em enredos fantasiosos se perde forçosamente um advogado de causas inúteis ou desonestas. O rol de argumentos, enumerados em jeito de façanha, procura convencer a audiência do que não é óbvio nem sensato e assim, não sendo pela razão, julga vencer pelo espanto. É um caminho legítimo, embora de fôlego curto. Nós preferimos outro. Aqui, não se pratica o alarde de virtudes, pois isso é próprio dos desesperados ou dos que estão à venda e o retrato de Isabela é quanto basta para notar que ela não é uma coisa nem outra. Já outras, rugindo isto e aquilo, que fazem e acontecem, que cospem e castram, só têm para mostrar uma corola. É bela, sim senhores, mas afinal, oh... toda aberta, tão recetiva, quase suplicante, revelando que afinal não floresce para guerrilhar mas apenas para dar-se às bicadinhas de um pássaro ou à vibração das asas de um inseto, amarrada a uma estaca, que é, entre todas as formas de submissão, a favorita das orquídeas comuns. 
Cuidado com as palavras: Isabela não tomba. Isabela repousa, estende-se e dá-se ao prazer, aproveitando as brisas para se balouçar no couro rijo do tamborete. Em menos de um ai, a primavera vai-se e seria de pouca esperteza gastá-la em conflitos e atritos, onde mais depressa cansaria a sua beleza do que ganharia por ela as justas medalhas. De resto, para quê dar provas, detalhes, justificações, pormenores ou apreciações à lupa, em altíssima definição e contraste, como há também quem faça para seduzir à pressa, sem notar o risco que corre? Nada disso. Aquela que quer continuar a deslumbrar com o seu bailado jamais deve cair no erro de mostrar, de perto e descalços, os pés com que dança.