Ao cabo de dois meses de veraneio, o mais novo regressou a casa com mais um palmo de altura, uma tez de criatura nómada e cogitações à roda de assuntos diversos que ficam melhor só entre nós. Para o receber fiz tudo o que ele gosta, panquecas americanas, sopa de beterraba e lentilhas vermelhas, fusilli com camarão, feta e manga, comprei bilhetes para o cinema, preparei óleo de massagem. Assim que o acomodei na insuficiência do meu colo, a Terra, que por hábito e ironia ameaça resvalar à força de delírios vários, sustos e combates, foi de novo trazida à órbita. A sua disposição grata, compassiva e luminosa – igual não conheci em mais ninguém, adulto ou criança – demove todos os fantasmas e dilui no tempo infinito a gravidade de cada segundo que passa. Quem terá abençoado a hora acidental, inadiável, em que foi feito?