Ainda tenho os sonhos afinados pela vida de antigamente, quero dizer, a vida da semana passada. A profundidade da minha consciência tarda a sintonizar as novas frequências, não acata as normas de distanciamento nem assume o rigor calculista dos movimentos. Esta noite, por exemplo, nem imaginas, dançámos juntos, arrancando a respiração à boca do estômago com os rostos encostados. Dois autênticos primitivos, insubordinados, reles marginais a precipitar a morte e o fim do mundo.
O presente demora sempre a instalar-se. Quando ganha o seu espaço e o sedimenta, estamos já no futuro. É então que muitos de nós, às vezes com anos de atraso, começam a ser perseguidos pela noite dentro.