10.1.20

A mãe da rapariga da papelaria aconselha-me a não deixar o mais novo andar sozinho na rua, a cidade é povoada de gabirus bem falantes que vingam a perda da própria inocência corrompendo a dos outros. Que exagero, comento, absolutamente segura das minhas decisões, só depois percebendo que não é comigo que ela fala, mas com os seus fantasmas. A inocência, acrescenta, é a mais rara de todas as pérolas. Por ela se fizeram já acordos em que, no fim, só a infelicidade lucrou. Alice, dócil borboleta atraída por todas as luzes, cores e perfumes da vida, felizmente não percebe o lamento da avó que, ao tomar-lhe o rosto entre as mãos, suspira desde o fundo do seu ventre envelhecido: minha riqueza, em que mundo te foi meter a tonta da tua mãe!