Não seria de esperar que me custasse cada vez mais suportar as conversas à roda da sabedoria e de outras grandezas da maturidade. São tão férteis em clichés os que falam de cima e com desdém sobre os mais novos, esses que estudaram, trabalharam, casaram, fizeram filhos, multiplicaram-nos por netos, criaram raízes, nutriram bolores, e são agora proprietários de casas, saudosismos, arrogâncias, poupanças, segredos, arrependimentos e ossos fracos. Além de cansaço, o que dão a mais o tempo cumprido de rotina, a voluntária escravatura, a dobra nas costas, as faturas todas pagas no prazo? E mesmo os livros lidos, os consumos pagos de cultura e espetáculo, a dedicação às religiões, os carimbos no passaporte, um ou outro prémio ganho por qualquer coisa em breve esquecida, e até os delitos praticados, as dores provocadas e sofridas, quão mais perto do absoluto e da razão nos levam? Os miúdos de agora, que tristeza, dizem. Tristeza é não haver mais o que fazer com tudo o que se tem a ilusão de ter aprendido e, só porque a marcha vai agora mais lenta e está mais perto de findar, rir dos que ainda vêm lá atrás aos tropeções.