15.1.22

Perguntam se não é dever de uma mãe alegrar os seus filhos ao invés de ser cúmplice das suas tristezas e eu penso apre, de quantas inquietações desnecessárias este blog é causador! Sucede que aos meus filhos cedo foi dado a provar o amargor de perdas irreparáveis e eu, pobre de mim, não só não pude protegê-los como fui o cruel mensageiro, minhas foram as palavras que rasgaram ao meio os seus corações de leite. Com que hipocrisia ou traje de circo havia eu de me vestir diante de quem já sabe que, embora digna de celebração, cheia de graças e maravilhas, a vida é um dá e tira, uma corda bamba, uma brecha a estalar debaixo dos nossos pés? Ah, sim, magníficos são esses pais que a toda a hora fabricam a felicidade das suas criaturas com estridências, colorações artificiais, festas e festinhas, bombos e teatros, teorias e estímulos, julgando assim enxotar-lhes toda a espécie de lutos, sombras e desilusões ou evitar que, por falta do que fazer, se viciem na cisma e na observação não condicionada do mundo. Tão pobrezinho deve ser o meu amor que nem sabe pôr disfarces à vida, dá-se com nudez e honestidade, sem fantasias nem manuais de apoio, e, por isso, às vezes, também em silêncio e desolação. Medíocre o resultado: filhos imperfeitos como pedras, fracos como gente, inquietos como vós.