Poucos são os jornalistas que resistem a perguntar às figuras mediáticas da literatura o que é preciso para ser um bom escritor. Num delírio passageiro, imagino sempre que o entrevistado vai descompor o pragmatismo infantilóide da abordagem com uma ironia qualquer. Mas parece que boa parte da gente das letras não só leva o manual de instruções a sério como tem na vaidade o pecado de estimação e, apoiando-se no disfarce roto da terceira pessoa, o escritor responde sempre prontamente com um resumo dos próprios hábitos, traços de personalidade e até mágoas. Nesse momento, milhares de almas no mundo caem num rodopio de ansiedade, umas a verificar que cumprem os requisitos, outras a pensar como hão de cumpri-los.