21.9.23

Mariana casou esta noite com um vestido rodado de inspiração campestre, em linho branco e bordados azuis no peito e nos punhos. Quando apareceu para a cerimónia, saltei-lhe para o colo, ela segurou-me e largou a rir, não sei se dos nervos se do gosto de nos reencontrarmos. Desejei-lhe felicidades e pedi desculpa pela minha arrogância, que não me levasse a mal pois se às vezes falo de cima e de longe não é senão para impor respeito às minhas próprias debilidades. Contava que ela fizesse o mesmo, que singelamente dissesse oh, qual quê, eu também sou uma arrogante de primeira, perdoa-me tu também. Então comover-nos-íamos juntas e nesse instante mágico nos tornaríamos amigas até ao fim dos tempos, contra provas, provações e intempéries, pois agora unidas pelo mesmo vício de caráter. Mas Mariana não foi outra que não ela. Como se visse em mim uma criatura esfaimada de afeto ou alguém a merecer condescendência, passou-me a mão nos cabelos e tudo bem, deixa lá, já passou.
Acordei sem lhe ter esmurrado a face, sem lhe ter rasgado o vestido, sem lhe ter revelado o que nas costas dela me disse o homem que a esperava no altar. Estou a tornar-me cada vez mais pacífica quando sonho. Nota positiva para a índole da minha subconsciência.