26.10.22

Todas as coisas são menos importantes do que aparentam quando as contamos. Na realidade, tudo são miudezas, quotidiano, e o que sentimos como tremendo ou raro – a morte, um desgosto, uma traição, uma doença – não é senão o que no mesmo instante acontece a milhões de pessoas. Vivem desatentos aqueles que acreditam que a própria vida dava um livro, porque um livro dariam todas as vidas e, em bom rigor, a nossa tragédia é só pano de fundo e figuração no monumental enredo do outro e vice-versa, já que a história depende sempre mais de quem conta do que dos acontecimentos. Talvez seja por isso que se escreve, para que na enxurrada universal de perdas, dores e desalentos, não vá, arrastada e esquecida, a nossa ínfima parte. Contar é fazer justiça às coisas que deus ignora.