11.1.22

Deve ter havido um ponto, no curso pacato desta nossa existência habituada à democracia, em que, por descrença, desentendimento ou simples desleixo, perdemos a noção de que governar é um serviço e não um jogo. Só isso explica as ganas de vencidos e vencedores com que se comentam os debates dos candidatos às legislativas, a apreciação dos melhores ataques e contra-ataques, a avaliação do grau de espetacularidade da desavença e até o traje com que se apresentam à performance. No meio de tudo, nem nos damos conta que quem perde somos nós, porque, pelo visto, nenhum esclarecimento, nenhuma sensatez, nenhuma honestidade nos é devida. Tampouco a reclamamos, porque isso tornaria o debate demasiado sério, cansativo, incapaz de competir com a fulgurante e atrativa decadência dos reality shows. E para esta diversão inconsequente compramos nós bilhete a cada quatro anos.