Dez da manhã de sábado e já os homens se pegam no tasco por causa da bola. Cá fora o ar está espesso, arde na pele, ferve na garganta. Uma aragem muito seca, de mau agoiro, desinquieta as páginas do meu livro. Lá dentro ecoam insinuações, ofensas e ameaças veladas. Uma grande penalidade injusta, um fora de jogo dúbio, a memória de um mau resultado na época passada... A cada trouxa de roupa suja que se lava, o desentendimento aproxima-se mais da violência. Assuntos de família e contas antigas já são chamados ao barulho. Felizmente alguém se lembra: ó Moreira, outra rodada para todos, que pago eu, e nesse mesmo instante se dilui a desavença, troam gargalhadas e saudações.
É desconcertante ver que com tão pouco se magoa a honra dos homens e com menos ainda se adormece as suas fúrias.