Compreendemos agora que esta habitante de serenas prateleiras em fundos minimalistas onde se fazem "destralhes" radicais à la Marie Kondo para simular a empatia com os simples, acabou a sentir falta de um propósito de vida. Por desfastio, terá esticado a haste até às poeiras da biblioteca, enfiou as pétalas nas páginas de Proudhon, depois Marx, e pensou que para efeitos de diversão talvez lhe assentasse bem o traje da rebeldia social e os trejeitos do velho ressabiamento anti-burguês. Muito bem. Prevemos que não tardará a rebelar-se contra a mão que a rega, rebentará o vaso de onde cospe revoltas adolescentes e juntar-se-á às camaradas selvagens que tanto venera, as do campo, as que suportam ventos e aguaceiros, as que de sol a sol trabalham a terra com as próprias raízes e murcham por falta do tratamento merecido. Aplaudimos. Basta, porém, olhar para ela para saber que, uma vez por mês, tornará a casa para se limpar da poeira e do cheiro a erva e, claro, recolher a mesada, cuja proveniência, nessa hora, pouco lhe importará.
Mas não é a única. Outras espécies se entusiasmam à procura de um sentido para a vida que tenha feição verdadeiramente revolucionária e original. Eis uma suculenta a apregoar os nobres valores da diversidade e da inclusão, tentando comover e ganhar likes. Contudo, repare-se como subtilmente descarta a alface para fora do seu vaso, que é como quem diz somos todos iguais, desde que não me atrapalhes.
Enquanto isso, Isabela boceja. Não mexe uma pétala para se defender. Aristocrata, burguesa, mimada, intriguista, tudo isso e o que mais quiserdes.