31.7.25

Por razões que pouco importam, dei comigo, esta noite, a lembrar o tempo do confinamento, das brincadeirinhas burguesas alardeadas nas redes sociais, era quem mais fazia pão, devorava livros e pregava a elevação da humanidade a um estádio superior, olhando as ruas vazias com uma espécie de romantismo trágico, cheio de pieguice e privilégio. Ligavam uns aos outros com lições de moral e afastavam-se entre si, como heróis, em nome de um bem maior, um bem comum, que os pivôs dos noticiários nutriam com sermões risíveis e insultuosos. 
Os avós dos meus filhos nunca deixaram de os receber. Recusaram-se a obedecer a esse paternalismo que encheu de culpas os corações das crianças e hipotecou a sensatez dos adultos ao ponto do abandono. Os avós dos meus filhos diziam que, de qualquer forma, estavam na reta final da vida e que a ideia de a passar longe dos que amam em troca de mais ou menos um ano neste mundo seria uma escolha absurda, desumana e, essa sim, egoísta. Até hoje, nenhum de nós se arrepende de ter confiado na medida urgente do amor e do afeto.