11.4.25

Aborígene! Obeso! Invisual! Vociferavam assim, sobre o árbitro, os furiosos na bancada. Ninguém me contou — ouvi eu, sempre de ouvidos espantados com a eloquência nacional. Tão rápido aprendemos que, ao polir a linguagem, contornando as ofensas primitivas que a moral coletiva já aprendeu a rejeitar, podemos odiar com a mesma força, humilhar em público, reduzir a lixo os que, bem ou mal, ponham travão às nossas ganas. Ah, saibamos escolher o verbo e jamais precisaremos de consertar o caráter. 
Como a história da humanidade tem demonstrado, a civilização não triunfa sobre a selvajaria. Não domina o animal, a sua urgência, as suas fomes, os seus instintos, apenas lhe vai ajustando o traje para que possa sempre entrar pela porta da frente e desfilar na dianteira dos cortejos sem que ninguém lhe peça contas.