Notemos essas grupetas que gostam de elaborar, online e offline, acerca do flagelo que é a falta de hábitos de leitura. Uns do meio literário e educativo, outros somente opinadores a quem o ócio desencaminha mais do que o mundo precisa, mas todos certamente superiores, pois dominam a receita para a elevação intelectual de um povo. Supõem-se cultos porque leem muitos livros, ignorando que a cultura não é um ato de consumo mas antes – e sobretudo – de entendimento e transformação. Notemos como são sobranceiros e autoritários, logo aí deixando em evidência que é parco e seco o fruto que dá tudo o quanto em si dizem cultivar. Limitados ao convívio e à comunicação uns com os outros, ora em corredores de academia ora em eventos de acesso condicionado, que margem lhes sobra para evoluir em visão e raciocínio? Tomam pela verdade o que supõem mas supõem generalizando, porque as generalizações são a tara de quem vive fechado em gabinetes, agarrado a manuais, trocando impressões com os pares. Esses, quando vêm defender, sem margem à dúvida, que o remédio para a gente gostar de ler é mandar ler – aplicando com rigor essa coisa desapaixonada a que se chama o hábito da leitura – não vos lembram aqueles pais provincianos muito certos de que impor ao filho quase infante a frequência de bordéis era o quanto bastava para os educar na paixão pelo sexo oposto?