18.8.23

Minha Nossa Senhora Daqui e Dacolá, que varres as angústias para as margens do verão e trazes à luz os santos que dormem na sombra fresca das igrejas e vestes as crianças como os anjos que jamais hão de ser e és levada em ombros e espalhas cheiro de farturas e misérias, vê bem que os homens compraram agosto inteiro só para ti, então faz o jeito e, ao passares na minha terra, à porta da minha casa, na face negra da minha alma, pousa a tua mão, em cujos milagres descreio, pousa-ma nas feridas, benze-me a carne viva, estanca-me o sangue, faz também a mim o que fazes aos outros, põe-me a girar nos carrosséis das rotundas, tira-me o tino, o fôlego e a memória da véspera, enche-me a barriga de gorduras queimadas e vinhos baratos, suja-me desse pó que se levanta nas pracetas onde os homens se embriagam e as velhas dançam como se chamassem o diabo e as crianças confiam em quem não devem e o tempo futuro dos verbos nunca se aprende em condições.