Esta noite sonhei que conseguia apaziguar de vez todas as turbulências do coração de Beatriz e, acordando, entristeci-me ao constatar a realidade tão aquém. Beatriz é minha amiga. Soube-o no dia em que eu disse não avanço mais, comprometendo de forma drástica o mundo ao meu redor, e ela só respondeu está bem e depois diz-me o que queres que eu faça. Sobre os amigos costuma dizer-se que estarão lá para nos chamar à razão com as verdades duras e necessárias e serão até louvados pelo sangue frio com que nos aplicam dois tabefes em ocasiões de insensatez. Mas o que é isso senão mais uma entre tantas banalidades de inspiração romântica? Beatriz, ar seráfico e compreensivo, não gastou o instante do meu desespero a ajuizar, tampouco me diminuiu com conselhos de pechisbeque que a si mesma não houvessem servido. Antes deu as suas costas para sustentar também a derrocada da qual só eu tinha a culpa – está bem. Sonhar que lhe apaziguava o coração é retribuir de forma menos do que insuficiente.