2.8.22

Mais tarde, depois de as velhas dispersarem e de a mãe sair para apanhar Alicita na vinda da colónia, a rapariga da papelaria toma o pretexto de um assunto menor para me falar. E, por qualquer razão que me escapa, como se alguma culpa a consumisse, lança-se de repente a explicar.
–  Os homens da minha idade são muito infantis, não me interessam. Este é uma pessoa madura.
Satisfações, sei lá eu por que mas dá. Suponho que ande em busca de quem não lhe aponte a cama onde deva deitar-se só porque tem de ser ou devia ser ou seria melhor que fosse ou isto e aquilo. Não a noto mais leve ou feliz, o que me leva a duvidar da conveniência deste novo amor. Continua vaga, ausente e desambiciosa, como habitando um sonho onde tudo é decidido por ventos e casualidades. Admito que essa melancolia obstinada tenha o seu encanto e por algum motivo o Marco do ginásio ainda pasma defronte da papelaria, sem se importar que os olhos da manicura sonsa reparem no delito. É um homem banal, vive com ganas de derrubar muralhas e quanto mais altas e firmes, mais forte é o ímpeto pois daí lhe virá maior impressão da vitória. Infelizmente para ele, devolver à vida uma alma que por vício e conforto é desiludida requer trabalhos de outra ordem. E nem sempre aquele que tem musculatura para abater o obstáculo a tem para sustentar a consequência. A rapariga da papelaria sabe-o e por isso nunca olhou para ele por mais tempo do que o necessário às contas e trocados. Agora, quem lhe restitui a esperança numa vida que caiba no senso estreito da mãe, das velhas e do seu próprio romantismo – cheios de boas intenções mas nem por isso razoáveis –, é, portanto, uma pessoa madura. Falta-nos só saber como se define tal figura no dicionário de uma tontinha.