28.11.20

Sempre que o mais velho se põe a ouvir pagode brasileiro, sei que a felicidade anda a rondá-lo de maneiras femininas e urgentes. O que mais quero é te dar um beijo / e o seu corpo acariciar / você bem sabe que eu te desejo / está escrito no meu olhar. O mais novo, que ainda não reconhece ao amor a benfazeja competência de embriagar a carne e vive descansado com versões platónicas, de casta doçura e pressa nenhuma, franze a testa à cantoria. Há uma idade em que as crianças ficam parecidas com velhos moralistas: a sensualidade desconforta-as, suspeitam dela como de uma conspiração. E quando nesta forma tosca e dura se vai convertendo a inocência, é porque está perto de caducar.