27.3.20

Este nojo físico que aprendemos a ter uns pelos outros, que cultivámos até se tornar num automatismo, que tiraniza agora todos os nossos gestos, movimentos e ideias, assusta-me. Algum dia tornaremos a obedecer, de ânimo leve, ao instinto? Voltará a soar-nos razoável a ideia de que a epiderme é o mais profundo e honesto de todos os lugares onde o sentimento se manifesta? Estenderemos de novo a mão, sem filtro ou reserva, para amparar um estranho que vacile ao nosso lado? Passada a tormenta, seremos capazes de resgatar aos escombros a forma original de reconhecer, desejar e confrontar os outros?