Arrasada por vagas tumultuosas de trabalho e, nos intervalos, distraída com futilidades, apanhou-me de surpresa o desabrochar de Isabela. Ontem eram brotos, hoje oito flores de escancarada doçura, desenhadas com um rigor que mais espanta quanto mais em detalhe se lhes tira as medidas e aprecia os ângulos. Incapaz de suportar sozinha o peso de tanto talento, Isabela apoia o braço num velho tamborete que eu, tendo por costume e defeito antecipar tragédias, ali coloquei à disposição de sua excelência. Com isso, fica o tamborete a parecer luxuosamente estofado porque Isabela derrama sobre ele os seus folhos de veludo branco, mais ricos ainda com o oiro e rubi de uns labelos perfeitos. Que esperta é. Ao invés de se enamorar de gatos pretos sem nome nem residência fixa, resigna-se ao ombro de um velho tamborete. Apático, mas ao menos de confiança. E o tamborete, encostado por falta de serventia, ganha em troca a mais bela de todas as oportunidades que já teve na vida. Ora, se ambos saem valorizados não vejo como há de esta história acabar mal, por mais que vasculhe as sombras férteis do meu pessimismo.
30.4.21
25.4.21
A liberdade, de todos os valores o que aparenta mais fibra e firmeza, palavrões na boca, braços no ar, armas na mão, está na verdade sempre por um fio, mal notando como dá os pulsos a grilhões que toma por necessidade ou vantagem. Nem o amor, que é o amor, reputado de cego e ingénuo e sempre distraído do caminho a olhar para o céu, nem o amor é abalroado por tantos equívocos.
23.4.21
A Flor,
22.4.21
20.4.21
16.4.21
10.4.21
7.4.21
6.4.21
Quando aviso a estagiária que os adjetivos são o atalho descritivo das mentes preguiçosas, responde-me que não foi isso que aprendeu na escola. Dou-lhe razão – a escola não ensina a usar o adjetivo com o devido respeito pela dignidade do substantivo. Ela faz-me a pergunta a que até hoje nenhum dos meus estagiários resistiu: onde é que eu posso aprender mais sobre isso? E eu também não vario na resposta: em todos os livros do mundo.