20.10.23

Sob a ampla abóbada de um guarda-chuva transparente de pintas rubras, a viúva e o homem de bigode com o charme desusado dos anos oitenta colhem as delícias da sua intimidade amorosa. Enquanto ela fala, ele abre caminho por entre a cabeleira negra, explora-lhe pescoço, sussurra-lhe ao ouvido, depois morde-a e cala-a atirando-se aos seus lábios com furor. "Mas olhe, ouça, Artur...", tenta ainda a viúva antes da entrega. À vista de quem passa e com a bênção particular daquele céu estrelado a vermelho, recordam como o enamoramento é fundamentalmente um vício de boca – a língua muito viva, o verbo sempre urgente.