21.4.23

Quando se deita ao meu lado, o homem cínico conta-me histórias a preto e branco da sua infância rural, de como os invernos rangiam nos ossos dos velhos e os aguaceiros de estio arruinavam a fé dos veraneantes. Depois de sucumbir à morte por obra e graça dos meus venenos de fêmea, embrulha-me na robustez dos seus tentáculos e fala-me ao ouvido sem romance nem maquilhagem, a formulação tão exata que não possa ser desdita e os verbos conjugados no tempo presente do modo concreto, por saber que nem as coisas já idas nem outras que se podem sonhar são honestas como as ciências que explicam a atração dos corpos.