O viúvo octogenário sem descendência que nada em dinheiro tem sido chamado à razão por algumas quantas boas alminhas, sempre zelosas, no sentido de abrir o olho e se manter esperto quando as mulheres se acercam muito. Garantem-lhe que é próprio delas uma perversa inclinação para as fontes de abundância material e que, para açambarcar o que jorra, dispõem-se a simular estados de paixão assolapada, disfarçando, como atrizes de primeira, a repulsa pela decadência de todo o aparelho da masculinidade quando lhe mudarem a fralda. Tire-se o chapéu a tamanhas artes de representação, pois até os mais inteligentes caem na trapaça e, mortos de amor, entregam de bandeja, primeiro toda a ternura que os seus corações exaustos ainda podem, depois os códigos, os créditos e as contas. Farto dos avisos — e porque não admite que mulher alguma confunda nele a idade com tolice — o viúvo octogenário sem descendência tomou medidas e agora só aceita aproximação de homens. Há pouco mais de uma semana, apareceu na vizinhança deste blog com um que não ia além dos vinte e cinco anos e com isso parece ter aquietado o espírito desta boa gente, porque o facto não deu azo a uma única palavra.